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Allenby Road

 “ALLENBY ROAD

Ao entardecer, quando as ruas paralisadas perdem

as esperanças de ouvir soar uma ambulância, decidindo-se afinal

por chineses que passeiam a esmo, enquanto os olmos imitam o mapa

de um país vestido com roupa khaki, que embala seus inimigos,

a vida vai pouco a pouco ficando míope, remendada,

aquilina, geométrica, sem brilho

e sem detalhes – cornijas, maçanetas de porta, Cristos –

que realcem as silhuetas: chaminés, telhados, um crucifixo.

Teu gesto de fechar as persianas desencadeia a teoria

do dominó, pois não importa o tamanho do nó

que se desfaça em tua garganta, as futuras bolas de neve,

à luz da lâmpada, sempre formarão o perfil de um inevitável “não”.

Não é porque, ultimamente, os preços andem salgados,

mas ninguém ousa pegar essa bolsinha de tijolos

cheia de trocados, que mal dá para pagar uma boa noite de sono.”

(1981)

– Joseph Brodsky/Iósif Bródski (Ио́сиф Бро́дский), em “Poesia soviética”. [seleção, tradução e notas Lauro Machado Coelho]. São Paulo: Algol, 2007.

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