Woody Allen não trabalhou durante a pandemia. O novo mundo trazido pela Covid interrompeu um fluxo que seguia ininterrupto desde 1977, quando ele fez “Noivo Neurótico, Noiva Nervosa”, e trouxe um filme
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As Cismas Do Destino
As Cismas do Destino
“Recife. Ponte Buarque de Macedo.
Eu, indo em direção à casa do Agra,
Assombrado com a minha sombra magra,
Pensava no Destino, e tinha medo!
Na austera abóbada alta o fósforo alvo
Das estrelas luzia… O calçamento
Sáxeo, de asfalto rijo, atro e vidrento,
Copiava a polidez de um crânio calvo.
Lembro-me bem. A ponte era comprida,
E a minha sombra enorme enchia a ponte,
Como uma pele de rinoceronte
Estendida por toda a minha vida!
A noite fecundava o ovo dos vícios
Animais. Do carvão da treva imensa
Caía um ar danado de doença
Sobre a cara geral dos edifícios!
Tal uma horda feroz de cães famintos,
Atravessando uma estação deserta,
Uivava dentro do eu, com a boca aberta,
A matilha espantada dos instintos!
Era como se, na alma da cidade,
Profundamente lúbrica e revolta,
Mostrando as carnes, uma besta solta
Soltasse o berro da animalidade.
E aprofundando o raciocínio obscuro,
Eu vi, então, à luz de áureos reflexos,
O trabalho genésico dos sexos,
Fazendo à noite os homens do Futuro.”
Trecho de As Cismas do Destino, de Augusto dos Anjos.
The Pyramids

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Antero Macedo, 65, passou os últimos dias organizando caixas etiquetadas com “Máquina do Tempo”. Sentado, estava à procura da carta da arquiteta Fabiana Castro, 29, entre pastas coloridas que tomavam conta da entrada da sala da diretoria do Colégio Mon
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Musée Du Louvre

museedulouvre #lelouvre #museu #museum #france #paris
Allenby Road
“ALLENBY ROAD
Ao entardecer, quando as ruas paralisadas perdem
as esperanças de ouvir soar uma ambulância, decidindo-se afinal
por chineses que passeiam a esmo, enquanto os olmos imitam o mapa
de um país vestido com roupa khaki, que embala seus inimigos,
a vida vai pouco a pouco ficando míope, remendada,
aquilina, geométrica, sem brilho
e sem detalhes – cornijas, maçanetas de porta, Cristos –
que realcem as silhuetas: chaminés, telhados, um crucifixo.
Teu gesto de fechar as persianas desencadeia a teoria
do dominó, pois não importa o tamanho do nó
que se desfaça em tua garganta, as futuras bolas de neve,
à luz da lâmpada, sempre formarão o perfil de um inevitável “não”.
Não é porque, ultimamente, os preços andem salgados,
mas ninguém ousa pegar essa bolsinha de tijolos
cheia de trocados, que mal dá para pagar uma boa noite de sono.”
(1981)
– Joseph Brodsky/Iósif Bródski (Ио́сиф Бро́дский), em “Poesia soviética”. [seleção, tradução e notas Lauro Machado Coelho]. São Paulo: Algol, 2007.
Dune – Rotten Tomatoes
Paul Atreides, a brilliant and gifted young man born into a great destiny beyond his understanding, must travel to the most dangerous planet in the universe to ensure the future of his family and his people. As malevolent forces explode into conflict over the planet’s exclusive supply of the most precious resource in existence, only those who can conquer their own fear will survive.
— Read on www.rottentomatoes.com/m/dune_2021
Lights And Colors

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Odisseu A Telêmaco
“ODISSEU A TELÊMACO
Caro Telêmaco,
encerrou-se a Guerra
de Tróia. Quem venceu, não lembro. Gregos,
sem dúvida: só gregos deixariam
tantos defuntos longe de seu lar.
Mesmo assim, o caminho para casa
mostrou-se demasiado longo, como
se Posseidon, enquanto ali perdíamos
nosso tempo, tivesse ampliado o espaço.
Não sei nem onde estou nem o que tenho
diante de mim, que suja ilhota é esta,
que moitas, casas, porcos a grunhir,
jardins abandonados, que rainha,
capim, raízes, pedras. Meu Telêmaco,
as ilhas todas se parecem quando
já se viaja há tanto tempo, o cérebro
confunde-se contando as ondas, o olho
chora entulhado de horizonte e a carne
das águas nos entope enfim o ouvido.
Não lembro como terminou a guerra
e quantos anos tens, tampouco lembro.
Cresce, Telêmaco meu filho, os deuses,
só eles sabem se nos reveremos.
Não és mais o garoto em frente a quem
contive touros bravos. Viveríamos
juntos os dois, não fosse Palamedes,
que estava, talvez, certo, pois, sem mim,
podes, liberto das paixões de Édipo,
ter sonhos, meu Telêmaco, impolutos.”
(1972)
– Joseph Brodsky (Ио́сиф Бро́дский), no livro “Quase uma elegia”. [tradução de Boris Schnaiderman e Nelson Ascher; Introdução e textos complementares de Nelson Ascher]. Rio de Janeiro: Sette Letras, 1995.
Um Homem E A Sua Vida
Um Homem e a Sua Vida
Um homem não tem tempo na sua vida
para ter tempo para tudo.
Não tem momentos que cheguem para ter
momentos para todos os propósitos. Eclesiastes
está enganado acerca disto.
Um homem precisa de amar e odiar no mesmo instante,
de rir e chorar com os mesmos olhos,
com as mesmas mãos atirar e juntar pedras,
de fazer amor durante a guerra e guerra durante o amor.
E de odiar e perdoar e lembrar e esquecer,
de planear e confundir, de comer e digerir
que história
leva anos e anos a fazer.
Um homem não tem tempo.
Quando perde procura, quando encontra
esquece, quando esquece ama, quando ama
começa a esquecer.
E a sua alma é erudita, a sua alma
é profissional.
Só o seu corpo permanece sempre
um amador. Tenta e falha,
fica confuso, não aprende nada,
embriagado e cego nos seus prazeres
e nas suas mágoas.
Morrerá como um figo morre no Outono,
Enrugado e cheio de si e doce,
as folhas secando no chão,
os ramos nus apontando para o lugar
onde há tempo para tudo.
Yehuda Amichai (1924-2000), poeta israelita.
(Tradução de Shlomit Keren Stein e Nuno Guerreiro)
Fonte: http://ruadajudiaria.com .